sexta-feira, 11 de setembro de 2009





De olho no vestibular da UFRGS/2010

Entre as leituras obrigatórias da UFRGS/2010, o tão "dolorido" (para os alunos) "Os Lusiadas", de Camões, foi abolido e em seu lugar entrou "O Uraguai", poema épico de Basílio da Gama, inserido na escola literária do Arcadismo brasileiro.

O Uraguai

Análise da obra

O poema épico de 1769, critica drasticamente os jesuítas, antigos mestres do autor Basílio da Gama. Ele alega que os jesuítas apenas defendiam os direitos dos índios para ser eles mesmos seus senhores. O enredo situa-se todo em torno dos eventos expedicionários e de um caso de amor e morte no reduto missioneiro.

Tema central

Pelo Tratado de Madri, celebrado entre os reis de Portugal e de Espanha, as terras ocupadas pelos jesuítas, no Uruguai, deveriam passar da Espanha para Portugal. Os portugueses ficariam com Sete Povos das Missões e os espanhóis com a colônia de Sacramento. Sete Povos das Missões era habitada por índios e dirigida por jesuítas, que organizaram a resistência à pretensão dos portugueses. O poema narra o que foi a luta pela posse da terra, travada em princípios de 1757, exaltando os feitos do General Gomes Freire de Andrade. Basílio da Gama dedica o poema ao irmão do Marquês do Pombal e combate os jesuítas abertamente.

Personagens

General Gomes Freira de Andrade (chefe das tropas portuguesas)
Catâneo (chefe das tropas esponholas)
Cacambo (chefe indígena)
Sepé (guerreiro índio)
Balda (jesuíta administrador de Sete Povos das Missões)
Caitutu (guerreiro indígena, irmão de Lindóia)
Lindóia ( esposa de Cacambo)
Tanajura (indígena feiticeira)

Resumo da narrativa

Basílio da Gama substitui o modelo camoniano de dez cantos por um poema épico de apenas cinco cantos, constituídos por versos brancos (versos sem rimas).

Canto I

Saudação ao General Gomes Freire de Andrade. Chegada de Catâneo. Desfile das tropas. Andrade explica as razões da guerra. A primeira entrada dos portugueses enquanto esperam reforço espanhol. O poeta apresenta já o campo de batalha coberto de destroços e de cadáveres, principalmente de indígenas, e, voltando no tempo, apresenta um desfile do exército luso-espanhol, comandado por Gomes Freire de Andrade.

Canto II

Partida do exército luso-castelhano. Soltura dos índios prisioneiros. É relatado o encontro entre os caciques Sepé e Cacambo e o comandante português, Gomes Freire de Andrade, à margem do rio Uruguai. O acordo é impossível porque os jesuítas portugueses se negam a aceitar a nacionalidade espanhola. Ocorre então o combate entre os índios e as tropas luso-espanholas. Os índios lutam valentemente, mas são vencidos pelas armas de fogo dos europeus. Sepé morre em combate. Cacambo comanda a retirada.

Canto III
O General acampa às margens de um rio. Do outro lado, Cacambo descansa e sonha com o espírito de Sepé. Este incita-o a incendiar o acampamento inimigo. Cacambo atravessa o rio e provoca o incêndio. Depois, regressa para a sede. Surge Lindóia. A mando de Balda, prendem Cacambo e o matam envenenado. Balda é o vilão da história, que deseja tornar seu filho Baldeta, cacique, em lugar de Cacambo. Observa-se aqui uma forte crítica aos jesuítas. Tanajura propicia visões a Lindóia: a índia "vê" o terremoto de Lisboa, a reconstituição da cidade pelo Marquês de Pombal e a expulsão dos jesuítas.

Canto IV
Maquinações de Balda. Pretende entregar Lindóia e o comando dos indígenas a Baldeta, seu filho. O episódio mais importante: a morte de Lindóia. Ela, para não se entregar a outro homem, deixa-se picar por uma serpente. Os padres e os índios fogem da sede, não sem antes atear fogo em tudo. O exército entra no templo. Com a chegada das tropas de Gomes Freire, os índios se retiram após queimarem a aldeia.

Canto V
Descrição do Templo. Perseguição aos índios. Prisão de Balda. O poeta dá por encerrada a tarefa e despede-se. Expressa suas opiniões a respeito dos jesuítas, colocando-os como responsáveis pelo massacre dos índios pelas tropas luso-espanholas. Eram opiniões que agradavam ao Marquês de Pombal, o todo-poderoso ministro de D. José I. Nesse mesmo canto ainda aparece a homenagem ao General Gomes Freire de Andrade que respeita e protege os índios sobreviventes.


Publicado por Paulo Christofoli
















quinta-feira, 27 de agosto de 2009



Os opostos: Rita Baiana e Bertoleza na obra O Cortiço

Várias análises já foram realizadas sobre o romance "O Cortiço", de Aluízio Azevedo, descrevendo sua importância na literatura brasileira.
A ideia desse ensaio é tratar da antítese entre duas personagens femininas: Rita Baiana e Bertoleza. Para isso recorremos à história literária com o objetivo de entender o momento histórico europeu e brasileiro e as influências dos movimentos e descobertas que permemiam o final do século XIX.
Em 1867 Émile Zola publica o livro "Thérèse Raquin", para espanto da sociedade francesa tendo sofrido duras críticas da comunidade literária, que seguiu a mesma linha de análise de autores como Gustave Flaubert e Charles Baudelaire. O amor do casal protagonista dessa obra, foi entendido como pornográfico, atentando contra os bons costumes de uma sociedade hipócrita que recolhia sua podridão por debaixo das avenidas parisienses. esse romance marca o início do Naturalismo. Émile Zola retratava a sociedade com uma visão realista, entendendo que a imaginação já não era a qualidade mestra do romancista. Para ele Balzac e Stendhal foram grandes porque retrataram sua época, e não porque inventaram contos. Em sua visão o romance naturalista tinha que fazer mover personagens reais num meio real, dando ao leitor um fragmento da vida humana, conforme descrito em seu livro "Do Romance":

"Visto que a imaginação, já não é a qualidade mestra do romancista, o que, então, a substituiu? É preciso sempre uma qualidade mestra. Hoje, a qualidade mestra do romancista é o senso do real (ZOLA, 1995: 28)."
O momento europeu estava em erupção convivendo com teorias como o Positivismo, de Auguste Comte, para o qual o único conhecimento válido é o conhecimento positivo, ou seja, provindo das ciências, como a Lei da Seleção Natural, de Charles Darwin, segundo a qual a natureza ou o meio selecionam entre os seres vivos as variações que estão destinadas a sobreviver e a perpetuar-se sendo eliminados os mais fracos, e, como o Determinismo. de Hippolyte Taine, defendendo que o comportamento humano seria determinado por três fatores: o meio, a raça e o momento.
Antonio Candido, em sua obra "O Discurso e a Cidade" reforça a ideia dessa ultima vertente que influencia a composição do romance "O Cortiço":
"A perspectiva naturalista ajuda a compreender o mecanismo d"O Cortiço, porque o mecanismo do cortiço descrito é regido por um determinismo restrito, que mostra a natureza (meio) condicionando o grupo (raça) e ambos definindo as relações humanas na habitação coletiva (CANDIDO, 2004)."
O Realismo brasileira tem início em 1881, com a publicação de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", romance realista de Machado de Assis e com a publicação de "O Mulato", romance naturalista de Aluízio Azevedo.
A partir da segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira sogreu grandes transformações. Da sociedade agrária, latifundiária, escravocrata e aristocrática passou a ser uma civilização burguesa e urbana. A mão-de-obra escrava aos poucos foi substituída pelos imigrantes europeus assalariados que vinham trabalhar na lavoura cafeeira.
A década de 80 correspondeu ao período de intensificação da campanha abolicionista que culminou com a Lei Áurea de 1888; ao período da Guerra do Paraguai e ao período da decadência da monarquia e estabelecimento da república.
Foi em plena época realista que ocorreu a Fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1897, e um processo que pode ser chamado de oficialização da literatura. O escritor que antes era meio discriminado, marginalizado, começou a ter prestígio e a participar mais ativamente da vida social.
Aluísio Azevedo foi o grande representante do naturalismo brasileiro. Para o autor o homem era fruto dos elementos biológicos (raça) e das circunstâncias do tempo e do meio em que vivia. Aluísio Azevedo era um escritor profissional, escrevendo de acordo com o gosto do público leitor da época. Sua obra era bem diversificada, apresentando romances românticos e romances naturalistas. Mas ao contrário de outros escritores que apresentavam fases, Aluísio Azevedo produzia os dois tipos de romance simultaneamente.
Em 1890 é publicado "O Cortiço" que retrava a realidade dos agrupamentos humanos em habitações coletivas muito comuns no final do século XIX. O romance fala das misérias, dos vícios e da promiscuidade das pessoas que habitavam o cortiço. O cortiço é o núcleo gerador de todas as ações do romance.
Anteriormente Émile Zola, em 1885 publica a obra 'Germinal" que elevou a estética e a descrição naturalista a um novo patamar de realismo e crueza. O romance é minuciosos ao descrever as condições de vida sub-humanas de uma comunidade de trabalhadores de uma mina de carvão na França. Após ter contato com ideias socialistas que circulavam pela classe operária européia, os mineradores retratados na obra, revoltam-se contra a opressão e organizam uma greve geral, exigindo condições de vida e trabalho mais favoráveis. A manifestação é reprimida e neutralizada, entretanto permanece viva a esperança de luta e conquista.
Aluízio Azevedo sofre influências dessa obra na composição de "O Cortiço", porém aprofunda as temáticas como a degradação do ser humano, a promiscuidade sendo mais ousado que Zola.
Dentro desse clima de promiscuidade agravado pelo alcoolismo, sexo e violência, se desenha o enredo da obra de Aluísio. O cortiço, como personagem central do romance, vai absorvendo e tecendo suas teias e consumindo o cotidiano de seus moradores, influenciando em suas ações, delineando suas personalidades, determinando suas atitudes reativas as mazelas impostas pela vida.
É nesse convívio com o meio que duas personagens femininas se sobressaem em dois pólos antagônicos. Rita Baiana, com o modelo de liberdade, dominadora, influenciando os homens que a rodeiam para conseguir seus objetivos, e, Bertoleza, escrava, iludida que foi alforriada, submetendo-se aos caprichos e exploração da personagem masculina de João Romão.
As relações entre homens e mulheres, ao longo dos séculos, mantém caráter excludente, no Naturalismo a mulher deixa de ser idealizada como no Romantismo e passa a ser representada de forma exagerada, e trabalha psicologicamente, pois essas são marcas do Naturalismo, até de forma patológica ela é representada, além de animalesca.
Rita Baiana levava um estilo de vida diferente das demais mulheres do cortiço. A mulata era independente e procurava viver cada dia da vida conforme ela se apresentasse. Suas ações despertavam um turbilhão de sentimentos entre as demais moradoras do cortiço. A sua falta de responsabilidade, sua sensualidade, talvez fosse como uma imagem refletida no espelho, causando inveja pela falta de coragem das outras mulheres em assumir seus temores, anseios e desejos mais profundos, enterrados em uma hipocrisia, firmados em valores familiares já então consumidos pela influência do meio.
Na passagem abaixo do romance, as lavadeiras definem como interpretam as ações de Rita Baiana diante dos acasos da vida:
"Uma conversa cerrada travara-se no resto da fila de lavadeiras a respeito da Rita Baiana.
- É doida mesmo!... censura Augusta. Meter-se na pândega sem dar conta da roupa que lhe entregaram... Assim há de ficar sem um freguês...
- Aquela não endireita mais!... Cada vez fica até mais assanhada!... Parece que tem fogo no rabo! Pode haver o serviço que houver, aparecendo pagode, vai tudo pro lado! Olha o que saiu o ano passado com a festa da Penha!...
- Então agora, com este mulato, o Firmo, é uma pouca-vergonha! Est'ro dia, pois você não viu? Levaram aí numa bebedeira, a dançar e cantar à viola, que nem sei o que parecei! Deus te livre!
- Para tudo há horas e há dias!...
- Para a Rita todos os dias são dias santos! A questão é aparecer quem puxe por ela! (O Cortiço, pg. 36)
As relações amorosas dessa personagem iram nortear seu percurso durante a obra, acabando em certos momentos, tornando-se protagonista das ações de violência, vingança, desejo carnal, falecimento da instituição familiar dos moldes europeus e ruptura do homem exercendo a ação determinante sobre o meio para por ele (meio) ser absorvido e subjugado aos seus caprichos.
A irreverência. atrevimento e visão de mundo em relação a relacionamentos com homens sempre se demonstraram como pontos altos em sua trajetória na obra. Sua definição da Instituição do casamento, fica bem evidenciada no trecho abaixo:
" - Casar? Protestou a Rita. Nessa não cai a filha do meu pai! Casar? livra! Para quê? Para arranjar cativeiro? um marido é pior que o diabo; pensa logo que a gente é escrava! Nada! qual" Deus te livre! Não há como viver cada um senhor e dono do que é seu! (O Cortiço, pg. 50)
Assim como Eva, personagem bíblica, e, Helena de Tróia, personagem da mitologia grega, Rita Baiana torna-se o foco da discórdia entre o sexo masculino.
A desobediência de Eva ao comer o fruto da árvores proibida, seja ela por ter sido enganada pela serpente e também pela curiosidade da raça humana em relação ao desconhecido, aparece em alguns traços da personalidade da personagem no romance.
A personagem Jerônimo, português, com valores calcados no trabalho e na família, acaba entregando-se aos desejos carnais por Rita e termina sendo engolido pelo meio, reforçando a ideia apresentada pelo Determinismo de Taine e reforçada por Antonio Candido quando apresenta três alternativas de Toynbee: "português que chega e vence o meio; português que chega e é vencido pelo meio; brasileiro explorado e adaptado ao meio".
Jerônimo se enquadra na alternativa do português que é vencido pelo meio. Uma vez que trabalha e mora no cortiço, deixa-se levar pelos encantamentos da mulata, divorciando-se de seus ideais de ascensão econômica e social e valores éticos de justiça e familiares.
Segundo os poemas épicos de Homero, a "Ilíada" e a "Odisséia", os gregos atacaram Tróia para recuperar Helena, esposa de Menelau, raptada por Paris. No romance "O Cortiço" é possível fazer algumas analogias.
Jerônimo, seduzido pelos encantamentos de Rira, durante uma roda de pagode, é desafiado por Firmo, amante da personagem, no que resulta em um ferimento quase fatal. Mais tarde, quando recuperado, Jerônimo planeja vingança contra Firmo e acaba tirando a vida dessa personagem:
"Soltaram-no então. O capoeira, mal tocou os pés em terra, desferiu um golpe com a cabeça, ao mesmo tempo que a primeira cacetada lhe abria a nuca. Deu um grito e voltou-se cambaleando. Uma nova paulada cantou-lhe nos ombros, e outra em seguida nos rins, e outra nas coxas, outra mais violenta quebrou=lhe a clavícula, enquanto outra logo lhe rachava a testa e outra lhe apanhava a espinha, e outras, cada vez mais rápidas batiam de novo nos pontos já espancados, até que se converteram numa carga contínua de porretadas, a que o infeliz não resistiu, rolando no chão, a gotejar sangue de todo o corpo. (O Cortiço, pg. 130)
A morte de Firmo acabou gerando revolta entre os moradores do cortiço vizinho, "Cabeça de Gato", que se organizaram para atacar e vingar a morte do companheiro. A guerra somente não ocorreu devido a tentativa de incêndio no cortiço, causada pela personagem chamada Bruxa. Rita Baiana foi o pivô dessa trama assim como Helena na guerra de Tróia. O motivo: o mesmo. A disputa de dois homens pelo amor de uma mulher.
Bertoleza já inicia a obra sendo enganada por João Romão, iludindo-se de sua alforia. Na contramão de Rita Baiana, essa personagem entrega-se em corpo e alma ao personagem masculino.
Os condicionantes sociais e psicológicos de bertoleza, fazia dessa mulher, mesmo que acreditando que sua liberdade havia sido comprada, que ainda dependesse e necessitasse da figura de um dono, de um controlador.
Bertoleza representava agora ao lado de João Romão o papel tríplice de caiixeiro, criada e de amante. Mourejava a valer, mas de cara alegre; às quatro da madrugada estava já na faina de todos os dias, aviando o café para os fregueses e depois preparando o almoço para os trabalhadores de uma pedreira que havia para além de um grande capinzal aos fundos da venda. (O Cortiço, pg. 15).
Através deste trecho podemos perceber a condição de escrava que ela vivia, e é importante ressaltar ainda que, o contexto social da época, século XIX, marcado pelo advento da sociedade burguesa, advento da ciência no mundo, além das teorias deterministas da época, influenciaram muito na representação que Bertoleza traz. Dessa forma, tratando da influência da classe em ascensão, que tinha como ideais a acumulação de bens, a burguesia visava antes de tudo o controle social e o crescimento econômico.
Sua admiração, despojamento de bens materiais e pessoais em prol da presença masculina, diante aos caprichos e pretensões de riqueza de seu dono, faz com que a personagem navegue em um mar de inanição. Ataulfo Alves e Mário Lago, autores em 1941, do samba "Ai que saudades da Amélia", versavam em suas palavras algo que se assemelha a personalidade dessa personagem"
"... as vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer...
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia que era mulher de verdade."
A animalização no seu percurso de vida faz-se presente em toda a obra. Come apenas para sobreviver, doa o corpo apenas para saciar seus prazeres carnais e de seu parceiro, trabalha como um "burro de carga" sem recompensas e aspirações na melhoria de sua qualidade de vida.
Sua obediência acobertava de tal forma sua condição enquanto ser humano, que mesmo na situação de escravidão acreditava que vivia em liberdade.
Essa situação fica evidente no final do romance quando João Romão trama para devolvê-la aos seus donos, preferindo a morte:
"A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.
Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.
E depois emborcou para frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue. (O Cortiço, pg. 175)
Finalizando esse ensaio, cabe ressaltar que as personagens femininas na obra "O Cortiço" exercem papeis mais importantes do que as personagens masculinas. São através delas que as ações do meio interagem no cotidiano da sociedade compreendida naquela localidade.
Em nosso mundo contemporâneo certamente nos deparamos com diversas Ritas Baianas e Bertolezas. As questões relativas aos opostos est~~ao sempre presentes em nossa sociedade, demarcando territórios e trazendo-nos reflexões inconscientes e conscientes das relações e condições humanas.
Escrito e desenvolvido por Paulo Christofoli
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Aluízio. O Cortiço. São Paulo: Klick, 1997.
CANDIDO, Antonio. O Discurso e a Cidade. 3. ed. São Paulo: Duas Cidades, 2004.
WIKIPÉDIA. O Naturalismo no Brasil. Disponível em: http://www.http//pt.wikipedia.org/wiki/Naturalismo Acesso em: 26 novembro 2008.
WIKIPÉDIA. Determinismo. Disponível em: http://www.http//wikipedia.org/wiki/Determinismo Acesso em: 26 novembro 2008.
WIKIPÉDIA. Positivismo. Disponível em: http://www.http//pt.wikipedia.org/wiki/Positivismo Acesso em: 26 novembro 2008.
WIKIPÉDIA. Hippolyte Taine. Disponível em: http://www.http//pt.wikipedia.org/wiki/HippolyteTaine Acesso em: 26 novembro 2008.
WIKIPÉDIA. Auguste Comte. Disponível em: http://www.http//pt.wikipedia.org/wiki/AugusteComte Acesso em: 26 novembro 2008.
WIKIPÉDIA. Aluízio Azevedo. Disponível em: www.http://pt.wikipedia.org/wiki/Alu%C3%AluísioAzevedo Acesso em: 26 novembro 2008.
ZOLA, Émile. Do Romance. São Paulo: Editora Imaginário: Editora da Universidade de São Paulo, 1995.

quinta-feira, 23 de julho de 2009



Cantigas de Amor





As Cantigas de Amor têm origem nas cantigas provençais desenvolvidas no sul da França passando por uma transformação em Portugal, tornando-as mais sinceras e mais autênticas para expressar os sentimentos de seus criadores.

Os elogios destinados a uma dama são sempre representados por um eu lírico masculino tendo seu trovador caracterizado como um coitado, sofredor.

Os temas utilizados pelos trovadores referiam-se a amores impossíveis, idealizados, fantasiados, sem serem correspondidos pelas donzelas. A mulher amada era exaltada em uma posição de superioridade e, em sua grande maioria, sem revelar seu nome a fim de não compromete-la.

A linguagem utilizada era melhor e mais estruturada que nas Cantigas de Amigo. Utilizava por vezes a estrutura das Cantigas de Maestria e em outras das Cantigas de Refrão.





Algumas características:

  • Eu lírico masculino.

  • Ausência de paralelismo, presente nas Cantigas Paralelísticas.

  • Tratava principalmente a aristrocacia das cortes.

  • Amor impossível, sofrimento amoroso.

  • Mulher idealizada.

Na próxima postagem, Cantigas de Amigo, Escárnio, Maldizer e Novelas de Cavalaria.

Paulo Christofoli



quinta-feira, 9 de julho de 2009

TROVADORISMO



O século XII representa o marco inicial, em Portugal, de uma linguagem literária em galego-português. As cantigas eram a forma utilizada pelos poetas para expressar a arte que se desenvolvia. Esses poetas eram chamados de Trovadores. O Trovadorismo é considerado a primeira manifestação literária da Língua Portuguesa.

Contexto Histórico

A Idade Média caracteriza-se por um sistema econômico social e político denominado Feudalismo. Esse sistema teve início no século V, apogeu no século X e desapareceu no século XV.
O Clero e a Nobreza eram as classes dominantes nesse período. A cultura Teocêntrica dominava o momento histórico tendo Deus como o centro de todas as coisas.
Apesar de toda economia girar em torno dos senhores feudais, os burgos já começavam a se organizar dando vestígios que uma nova classe social emergia nos arredores dos castelos, a Burguesia.
O momento cultural girava dentro dos castelos, onde os Trovadores cantavam seus poemas para a nobreza, contando feitos de cavaleiros, amores por donzelas puras, satirizando a sociedade.




As cruzadas são uma ordem militar organizada pela Igreja católica para combaterem os inimigos do cristianismo e libertarem a cidade de Jerusalém (Terra Santa) do domínio muçulmano. O movimento teve início ao final do século XI estendendo-se até aproximadamente à metade do século XII. A criação das cruzadas medievais está intimamente associada a uma tentativa de recuperação do sistema feudal já em crise durante a Baixa Idade Média.


Crise no Feudalismo


A decadência do Feudalismo no período chamado Baixa Idade Média decorre em consequência do aumento demográfico ocorrido entre os séculos X e XI. O aumento populacional não encontrava sintonia com o aumento da produtividade, fazendo com que muitos acabassem marginalizados e expulsos dos feudos. A partir desse fato a imigração para centros urbanos faz com que uma nova classe social começasse a surgir, composta por artesãos, ourives, pintores, construtores, etc. O mercantilismo já depositava sua semente no novo panorama econômico da época, prenunciando o surgimento de uma nova classe social, a burguesia.

Origem do Trovadorismo

Existem quatro teses sobre a origem do Trovadorismo. A primeira, Tese Arábica, acredita que o movimento tem como raiz a cultura Árabe; a segunda, Tese Folclórica, pregava a arte criada pelo povo; a Tese Médio-Latinista via sua origem na literatura latina; por fim, a Tese Litúrgica na qual a inspiração se desenvolveu por intermédio da poesia litúrgica-cristã.
As cantigas primeiramente destinados ao canto, foram manuscritas em cadernos de apontamentos e, mais tarde, dispostas em coletâneas chamadas de Cancioneiro. Cancioneiro eram livros que reuniam grande número de trovas. Durante o período três coletâneas destacaram-se:
  • Cancionerio de Ajuda: poesias escritas em galego-português datadas do final do século XIII, sendo influenciadas pela lírica occtana. Derivada de Aquitânia, uma antiga região administrativa do Império Romano, a língua occtana era uma língua romântica falada ao sul da França.

  • Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa: coletânea de lirismo trovadoresco galaico-português, incluindo Cantigas de Amigo, Cantigas de Amor, Cantigas de Escárnio e Maldizer. Entre alguns trovadores presentes na obra encontra-se Dom Dinis, rei de Portugal em 1279.

  • Cacioneiro da Vaticana: copilado no final do século XV, durante o reinado de D. João III, encontra-se na Biblioteca do Vaticano. É composto de 1205 cantigas, sendo que 138 são computadas de autoria de D. Dinis.
Artistas Medievais

Os artistas medievais seguiam a seguinte classificação:
  • Trovador: nobre, cultura erudita, criava pelo gosto do que fazia sem receber por suas composições.
  • Jogral: compositor saltimbanco ou ator sendo pago por suas apresentações.
  • Segrel: fidaldo em decadência que apresentava-se nas cortes em troca de dinheiro.
  • Menestrel: artista que servia a uma determinada corte.
  • Jogralesca ou Soldadeira: moça que acompanhava os artistas dançando, cantando e tocando castanholas.
Características do Trovadorismo

O projeto literário do Trovadorismo consistia em uma literatura oral com o objetivo de entretenimento para a nobreza, redefinindo o papel dos cavaleiros nas cortes. As estruturas literárias seguiam às relações de vassalagem, ou seja, os atores (vassalos) ofereciam a nobreza (suserano) fidelidade e trabalho em troca de proteção e um lugar no sistema de produção.
Além disso, a sociedade vivia em total subserviência a Deus (teocentrismo característico da época), representada literalmente pela submissão do trovador à dama (na poesia) ou do cavaleiro à donzela (nas novelas de cavalaria).
"A Cantiga da Ribeirinha" é apontada como o primeiro texto literário português escrito em aproximadamente 1189 ou 1198, considerada uma Cantiga de Amor, tendo sua autoria designada a Paio Soares de Taveirós.

Poesia e Prosa Trovadoresca

Poesia:
  • Lírica (Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo)
  • Satírica (Maldizer e Escárnio)

Prosa:

  • Novelas de Cavalaria

Dando continuidade ao Trovadorismo, em breve irei abordar os seguintes temas:

Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo

Cantigas de Maldizer e Escárnio

Novelas de Cavalaria

Paulo Christofoli






quarta-feira, 8 de julho de 2009

Passeio da turma de formandos do curso de Letras do IPA - último semestre de 2008

Parte 1

Pessoal, esse é o vídeo do nosso passeio - Quinta da Estância Grande - que estou disponibilizando no meu blog para que vocês possam ver. Tive que cortar em 6 partes pois estava muito grande. Espero que esse vídeo traga boas recordações.

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Parte 5

Parte 6 (última)




Pequeno ensaio sobre a livro: O Continente I, da obra O Tempo e o Vento de Érico Verissimo.
O olhar das mulheres e o sentimento dos homens perante as guerras no livro O Continente I
Érico Verissimo para dar corpo em sua obra o Tempo e o Vento utiliza-se de fatos históricos da formação do estado do Rio Grande do Sul. Por ser um território fronteiriço, a saga do povo gaúcho é marcada por várias guerras, sejam elas na defesa de suas propriedades, sejam elas de caráter econômico-políticos.
A segmentação em dois pólos acompanha, desde o início, a formação cultural desse povo. Portugueses/Espanhóis, Pica-pau/Maragato, mais recentemente, Grêmio/Inter, Os Terra/Os Cambarás, e, seguindo essa linha o autor vai tecendo sua trama dramática envolvendo o leitor e o próprio escritor.
O homem gaúcho, com seu estereótipo de macho, guerreiro, é incorporado pela personagem do capitão Rodrigo, talvez um "rebelde sem causa". Para ele, estar em combate significava estar na sua plenitude, em comunhão com a vida. Não percebemos durante a obra que Rodrigo lutasse por ideais políticos, para ele a guerra era sinônimo de sua virilidade, liberdade para trotear pelos campos, sem compromissos ou responsabilidades com a vida cotidiana, como demonstra o framaneto abaixo numa conversa entre Rodrigo e Juvenal:
"Mas a independência veio e o Rio Grande aceitou logo a situação. Foi pena. Eu tinha muito portugues marcado..." (O Continente I, pg. 217)
Na contramão de Rodrigo, a personagem que o antecede no romance, Ana Terra, demonstra todo seu desprezo pela guerra e suas consequências no núcleo familiar.
Fazendo uma análise dessa personagem, pode-se observar que alguns traços de sua personalidade não fogem da idealização do povo gaúcho, ou seja, valente, guerreira.
Sua visão sobre a guerra é sempre de algo que consome a vida, destrói a família e aproxima a morte de seu cotidiano, sem demonstrar objetivo, finalidade ou trazer soluções práticas e efetivas para o bem estar do povo.
A família é o núnleo central de uma sociedade e, para a persongem Ana Terra, é o núcleo central da vida. Seus sacrifícios sempre estão na preservação desse centro de interesse.
Seu filho, Pedro, é algo que aproxima a vida de uma esperança no futuro. Os seguimentos abaixo, demonstram o sentimento de Ana Terra com relação à guerra, quando seu filho Pedro foi convocado:
"...Ana Terra sacudiu a cabeça lentamente, mas sem compreender. Para que tanto campo? Para que tanta guerra? Os homens se matavam e os campos ficavam desertos. Os meninos cresciam, faziam-se homens e iam para outras guerras. Os estanceiros aumentavam as suas estâncias. As mulheres continuavam esperando. Os soldados morriam ou ficavam aleijados. Voltou a cabeça na direção dos Sete Povos, e seu olhar perdeu-se, vago, sobre as coxilhas". (O Continente I, pg. 181)
Ainda sobre a convocação de Pedro para aguerra, abaixo fragmento demonstrando o sentimento de Ana Terra, em uma conversa com o Coronel Amaral:
"Ana Terra sentiu uma revolta crescer-lhe no peito. Teve ganos de dizer que não tinha criado o filho para morrer na guerra nem para ficar aleijado brigando com os castelhanos. Guerra era bom para homens como o Coronel Amaral e outros figurões que ganhavam como recompensa de seus serviços medalhas e terra, ao passo que os pobres soldados às vezes nem soldo recebiam"> (O Continente I, pg. 179)
Ana Terra demonstra através de seus pensamentos e atitudes toda sua repulsa em relação as guerras intermináveis que não traziam benefícios, somente dor e perda para a população do vilarejo.
Retornando ao ponto principal desse ensaio, na qual mencionei a questão centrada entre dois pólos, Regina Zilberman, no Livro "O Tempo e o Vento - história, invenção e metamorfose", retoma essa idéia de dicotomia, corporificada entre os elementos do Punhal e da Tesoura.
Novamente podemos perceber, através da representatividade desses instrumentos, o sentimento de homens e mulheres perante as guerras, a morte, a vida.
O Punhal, carregado pela personagem Pedro Missioneiro, representa um símbolo capaz de tirar uma vida, causar a morte.
A Tesoura, que acompanha a personagem Ana Terra, representa o oposto, ou seja, um símbolo capaz de trazer ao mundo uma nova vida.
Ainda sobre a polaridade, o próprio autor, ao batizar sua obra sob o título de "O Tempo e o Vento", também traz a idéia de o Tempo é o que passa, o Vento é o que fica.
O romance traz a palco uma série de conflitos internos e externos travados na região sul, quando os Sete Povos das Missões estão sendo ameaçados pela execução do Tratado de Madri. Na sequência ocorre a revolução Federalista, na qual o Rio grande separa-se em dois blocos: os seguidores de Júlio de Castilhos, líder republicano e os seguidores de Gaspar Silveira Martins, líder Federalista. Ao mesmo tempo traça a história da formação da família Terra-Cambará.
A perspectiva na qual a guerra é observada e sentida, não é somente sob o ponto de vista de quem nelas lutam, mas sim de todos os que sofrem com ela.
As mulheres que ficam em suas terras como guardiãs do núcleo familiar, deixam claro seu ponto de vista a respeito do assunto, conforme ilustramos na fala da personagem Maria Valéria, na primeira parte do livro (O Sobrado I):
"Ter filhos é que é negócio de mulher, eu sei - continua Maria Valéria. Criar filhos é negócio de mulher. Cuidar da casa é negócio de mulher. Pois fique sabendo que esta revolução também é negócio de mulher. Nós também estamos defendendo o Sobrado. Alguma de nós já se queixou? Alguma já lhe disse que passa o dia com dor no estômago, como quem comeu pedra e pedra salgada? Alguma já lhe pediu pra entregar o Sobrado? Não. Não pediu. Elas também estão na guerra" (O Continente I, pg. 32)
Finalizando, diante de tantas guerras que são descritas no livro O Continente I, podemos nos questionar sobre o teor belicista da obra. As constantes batalhas que ocorrem durante os capítulos são o suficiente para que tenhamos uma visão bélica sobre a mesma?
A resposta a essa pergunta é não. Entendo que as guerras servem de "pano de fundo" para o desenrolar e dar verosimilhança ao romance. As tramas, os desgostos, as decepções, tristezas, alegrias, amores e desamores, baseiam-se na atitude dos personagens diante as situações do cotidiano. A obra pode trazer, muito mais que uma visão bélica, uma visão da sociedade, da construção de uma identidade.
Desenvolvido por Paulo Christofoli para apreciação da professora Luciana Coronel, titular da disciplina de Literatura Sul-Riograndense do IPA.

Pessoal, estou dando aula de Literatura como professor voluntário (sem dim dim)em um curso pré-vestibular para alunos de baixa renda na Associação Satélite Prontidão.
Como não havia nada pronto tive que desenvolver um material para que os alunos tivessem como acompanhar as aulas.
Em um primeiro momento apenas fiz uma organização de textos de outras obras, porém na sequência iniciei o desenvolvimento de material escrito e elaborado por mim mesmo através de estudos em obras literárias e consultas na internet.
Acima é um exemplo de como está ficando esse material. Apesar de não estar bem nítida a imagem dá para ter uma idéia.
Em tempo, o exemplo acima trata sobre o Trovadorismo.
Paulo Christofoli


As Mulheres de minha vida

Uma elegia ao amor maior
Infinitamente te amo.
Por que razão amar-te menos que infinitamente?!
Em que mundos cruzaram nossas almas e em que universo nossos lábios se tocaram?
Eu, carne, osso, razão, embebido pela loucura - que é como teus olhos nas noites estreladas - acha em ti o acalanto de uma vida...
Eu, que não creio em quase nada, creio em tua presença, creio na tua existência, pois teus gestos são os meus, tuas palavras são as minhas, as mesmas palavras que foram ditas nos cantos dos dias. Tua face é a outra parte da minha.
De onde veio essa nossa afinidade de pensamentos?!
És o sonho que se materializou na minha frente, e eu, como um menino perdido, por instantes, senti-me estático diante a realidade do destino.
Viestes a mim para para ser luz.
Oh, minha pequena, esse medo de não teres a mim com a ti tenho, essa vontade de gritar à essa vida o que nos foi destinado: que somos os herdeiros da eternidade...
És uma deusa de beleza, teu canto lírico mistura-se com a natureza, penetrando suavemente através das paredes, das pedras, dos corações embrutecidos pela dura rotina do dia-a-dia.
Teu olhar, como poder explicar teu olhar, se através dele posso ver o infinito...
Como explicar o infinito...?
És inexplicável minha formosa menina, és uma inesgotável fonte onde busco aspirações para seguir na rotina cotidiana, para o atropelo das pessoas por sobre os corpos abatidos ao final de mais um dia.
Quando à noite cai, trazendo seu véu e deixando com que as estrelas mostrem seus coloridos, sinto tua calma pairando sobre meu espírito e danço, num sonho imaginário, todas as valsas viajando além do inevitável, do incerto...
Amo-te infinitivamente, infinito verbo ou palavra mágica, nome próprio ou qualquer outro adjetivo, ou qualquer outra coisa, pois elas serão o que tiverem que ser e nós seremos mais dois na estrada da eternidade.
Dedicado a minha esposa Cinara e minha filha Bárbara.
Paulo Christofoli

terça-feira, 7 de julho de 2009

Porto Alegre nublado, 21.05.2008.

Caminho pelas ruas e o céu está nublado deste dia 21 de maio. Organizo minhas idéias, repasso minhas lembranças, dou uma olhada rápida para o passado e me distraio um pouco com isso. Rapidamente volto a olhar para frente.

As batalhas que enfrentei já não são tão mais importantes, ficaram guardadas numa caixa no fundo do armário. As vezes abro a porta do armário e fico admirando aquelas caixas, uma em cima da outra. Não abro, somente as observo. O cheiro de guardado já é o suficiente para trazer imagens, não todas, apenas aquelas que de alguma maneira fazem sentido nesse momento.

Um dia, tempos atrás, vislumbrei que as Letras poderiam dar-me voz para saciar minha sede de falar ao mundo minhas angústias, minhas necessidades. Mas o tempo foi passando e minha voz foi ficando cada vez menor até que um dia calei-me. Já não sabia mais falar, já não tinha mais o que dizer. A rapidez do movimento do mundo tinha me engolido. Eu funcionava como uma máquina automatizada, sem vontade própria. Alguém acionava um comando e eu agia. E cada vez mais o mundo ia ficando nublado, assim como o dia de hoje, o dia 21.05.

Outras vezes tentei retornar para que o VERBO se fizesse presente e, a partir dele, as flores voltassem a florescer, porém sem sucesso, algo me impedia.

A força cotidiana, a necessidade material, cada vez mais me regava a carne. Então endureci. Era só Carne sem Verbo.

Ainda caminho pela mesma rua nublada nesse dia 21.05, mas ela é diferente. Ela tem cor. É possível achar cor no nublado. Tem várias tonalidades de cinza, o branco se mistura com um azul desbotado, o verde das árvores exalam um cheiro de libertação.

Chego em casa e começo a escrever. É nesse momento que o Verbo se liberta da Carne. As palavras vão brotando como as flores dando início a primavera.

Recordo-me do marco inicial que deu origem a essa revolução. Março de 2007. O corpo sendo arrastado para uma sala de aula. Uma disciplina, uma tal de Leitura e Expressão Oral. Entra porta a dentro uma mulher. Uma tal professora Cláudia. A Carne pensa: "lá vem mais uma". Palavras que serão ditas certamente irão entrar em minha cabeça mas não tomarão assento na fila da frente, talvez com muito esforço ficarão guardadas dentro das caixas, aquelas mesmas que estão guardadas no fundo do armário.

Porto Alegre nublado, 21.05.2008.

Agora aqui sentado junto ao meu silêncio, lembrei-me daquelas caixas. Abri o armário e percebi que as caixas estavam abertas, porém dentro já não havia idéias, aspirações, esperanças, mas sim os velhos talões de cheques, os extratos bancários. As idéias sentaram na primeira fila de minha cabeça, as aspirações abriram meus olhos para um mundo diferente e as esperanças tornaram-se concretas.

O mundo está necessitando de ídolos e eu o encontrei em Março de 2007, numa tal de disciplina de Leitura e Expressão Oral.

Nesse dia em fazes anos, o meu presente pata ti é meu Verbo, esse mesmo que tu já havia me dado de presente em Março de 2007.

Dedicado a Professora Cláudia Rahal no dia de seu aniversário.

Clau e sua poesia

É sexta-feira, dia de festa. Os rostos se iluminam nas sextas-feiras. Não tenho um programa definido. A única certeza é de enfrentar mais uma apresentação em grupo durante a aula noturna na faculdade.
Todos a postos, círculo formado e vamos lá, a tortura vai começar.
Tudo vai ocorrendo como planejado. O blá blá blá de sempre. Uns falam com o colega ao lado, outros ficam com aquela visão de raio x, sabem como é visão de raio x, a pessoa está olhando diretamente para você e você tem a sensação de estar abafando... triste ilusão, o olhar atravessa e se perde em sei lá o que, menos em você é claro.
De repente as luzes se apagam na sala de aula. Primeira impressão é que a companhia de energia elétrica atendeu as preces de todos os descomungados que estão ali presentes, ou quem sabe foi uma força divina que ouviu seus súditos e resolveu dar uma mãozinha e acabar com o sofrimento.
Porém ocorre um fato inusitado. A chama de uma vela se acende e por micro segundos o silêncio pairou no ar. Uma voz por de traz daquela chama inicia pausadamente recitar algumas palavras estranhamente ritmadas. O silêncio agora tem som. Um som doce que vai penetrando pelo nosso corpo e deixando uma sensação d pureza. Os nossos corpos mesmo que parados, dançam ao ritmo da melodia das palavras. Uma pequena e inocente poesia.
Aquela única chama de uma vela de repente multiplica-se em várias luzes em nossas mentes. É como um acalanto que vai nos envolvendo até fecharmos completamente os olhos e transformar a realidade em um sonho.
Clau e sua poesia.
A festa daquela sexta-feira estava diante de nós, mesmo como expectadores, porém triunfantes na certeza que ainda havia salvação para aquelas aulas.
A voz calou-se. As luzes voltaram a serem acesas. Os olhos de todos se cruzaram. Voltaria a realidade cruel que nos afoga a voz todos os dias?
Porém isso não ocorreu, pois um pequeno laço de fita retirado dos cabelos de uma menina-mulher marrou nossos corações com uma sensação de plenitude.
Clau e sua poesia.
Dedicado ao colega e amigo Claudenilson

Esse vídeo é o resultado de um trabalho realizado para atender uma tarefa demandada pela cadeira de Leitura e Expressão Oral do 1º semestre do curso de Letras do IPA.

Esse vídeo foi disponibilizado por mim no youtube e tem gerado várias manifestações de aprovação por usuários da internet.

Uma análise do conto Soldadinho de Chumbo
(Hans Christian Andersen)

A situação inicial do conto nos remete para uma situação de dificuldade e restrição do herói pelo fato de ter apenas uma perna, porém existe o sentimento de superação dessa diferença, descrita na passagem:
"Mas ele ficava tão bem de pé, numa perna só, como os outros das duas"
Os conflitos estão presentes durante basicamente todo o conto. As diferenças sociais, situação essa impregnada na Dinamarca do século XIX, em que as constantes guerras enfraqueciam as finanças e aumentavam os contrastes entre a plebe e a nobreza, também estão presentes, situação essa evidenciada no trecho:
"Esta seria uma mulher ideal para mim. Mas é muito aristocrática, mora num palácio, e eu tenho apenas uma caixa de papelão, onde somos vinte e cinco"
O elemento do sobrenatural é carregado pela presença do Duende e como se fosse a voz dessa sociedade de classes diz para o Soldadinho que a bailarina está acima dele.
"Soldadinho de Chumbo! - disse o duende. - Tira os olhos de lá!"
Ocorre uma ruptura quando o herói sai da proteção e mergulha no completo desconhecido. Nesse momento as aventuras vividas pelo Soldadinho fazem aflorar seu sentimento de amor e perseverança diante as diversas dificuldades enfrentadas no transcorrer do conto.
O confronto e a superação desses obstáculos e perigos, busca soluções no plano da fantasia com a introdução de elementos imaginários.
O enredo segue linear e o processo de solução dá-se pela passagem que leva o soldadinho a ser encontrado dentro do peixe e, por uma dessas reviravoltas do destino, o soldadinho vê-se novamente diante da bailarina.
O desfecho remete-nos a um final apoteótipo na qual o soldadinho e a bailarina se fundem em um só coração dando assim a sensação da transformação em algo novo.
Simbologia do Chumbo
Símbolo do peso da individualidade incorruptível. Para a transmutação do chumbo em ouro, os alquimistas buscavam simbolicamente desprender-se das limitações individuais, para atingir os valores coletivos e universais.
O chumbo simbolizaria a matéria, enquanto está impregnada de força espiritual e a possibilidade das transmutações das propriedades de um corpo nas de um outro, assim como das propriedades gerais da matéria em qualidade do espírito. O chumbo simboliza a base mais modesta de onde pode partir uma evolução ascendente.
Essas características citadas acima estão muito presentes no conto O Soldadinho de Chumbo, principalmente em seu final quando há uma transformação do Soldadinho e da bailarina em um coração.
Análise do conto
O conto O Soldadinho de Chumbo foi o primeiro escrito totalmente por Andersen.
O conto trata de um grande amor entre o Soldadinho de Chumbo e a Bailarina e durante sua narrativa aponta situações precárias da vida.
O conto não traz a tona apenas o sentimento de amor, pois trata de ética, diferenças culturais, identidade e aceitação das diferenças.
Andersen utiliza-se da animação de objetos, como brinquedos, para representar a impotência das crianças, incompreendidas e cheias de desejo que ninguém escuta.
O autor tinha uma visão do amor, beata, platônica e muitas vezes letal, levando-nos a conjecturar que ele encontrou beleza nas palavras, mas nem por isso teve recompensas no campo do amor.
Na passagem do conto em que o soldadinho é engolido por um peixe e depois ser retirado da sua barriga, podemos fazer uma analogia com a gestação, um renascer para uma nova oportunidade uma vez que, por obra do destino, foi parar exatamente no mesmo lugar de onde havia saído.
A morte do soldadinho e da bailarina não deve ser encarada como uma tragédia mas sim como uma transformação, pois é nesse momento do conto, e somente nesse momento, que os dois conseguem ficar unidos. Da união dos dois surge um coração significando o amor pela eternidade. Essa transformação que ocorre pode estar relacionada também com a simbologia do chumbo na qual é considerado a base mais modesta de onde pode partir uma evolução ascendente.
Uma análise de Diana e Mário Corso em "A infância invade o conto de fadas"
"Por isso, não surpreende que o Soldadinho de Chumbo seja uma história de amor infeliz. Trata-se de um soldadinho diferente, pois lhe falta uma perna. Em função disso, apaixona-se por uma bailarina de papel, cuja perna erguida faz parecer que ela também tem apenas uma. Fascinado pela amada, coloca-se num lugar desde onde possa contemplá-la e deixa de ser guardado com seus irmãos. Em função disso, o soldadinho sofre inúmeros revezes, cai da janela, é colocado a navegar pelos esgotos num barquinho de papel e termina na barriga de um peixe que, para seu grande espanto, é comprado pela cozinheira da casa onde morava. Mas nem essa virada da sorte propicia o amor impossível dos dois: somente na morte, queimados juntos, derrubados na lareira, eles finalmente se fundirão.
Como o soldadinho e a bailarina, as crianças estão à mercê de serem levadas para onde forças superiores quiserem. Devemos lembrar que é bem recente a ideia de consultar uma criança a respeito de se ela quer ou não ir a determinado lugar ou se está sentindo-se bem onde está. Nos tempos da infância de Andersen, crianças morariam como, quando e com quem fosse disposto que deveria ser, e pouco importava o que achassem disso. Além disso, seus sentimentos não passavam de secretas fantasias e ilusões, que o mundo ignorava solenemente."