terça-feira, 7 de julho de 2009

Porto Alegre nublado, 21.05.2008.

Caminho pelas ruas e o céu está nublado deste dia 21 de maio. Organizo minhas idéias, repasso minhas lembranças, dou uma olhada rápida para o passado e me distraio um pouco com isso. Rapidamente volto a olhar para frente.

As batalhas que enfrentei já não são tão mais importantes, ficaram guardadas numa caixa no fundo do armário. As vezes abro a porta do armário e fico admirando aquelas caixas, uma em cima da outra. Não abro, somente as observo. O cheiro de guardado já é o suficiente para trazer imagens, não todas, apenas aquelas que de alguma maneira fazem sentido nesse momento.

Um dia, tempos atrás, vislumbrei que as Letras poderiam dar-me voz para saciar minha sede de falar ao mundo minhas angústias, minhas necessidades. Mas o tempo foi passando e minha voz foi ficando cada vez menor até que um dia calei-me. Já não sabia mais falar, já não tinha mais o que dizer. A rapidez do movimento do mundo tinha me engolido. Eu funcionava como uma máquina automatizada, sem vontade própria. Alguém acionava um comando e eu agia. E cada vez mais o mundo ia ficando nublado, assim como o dia de hoje, o dia 21.05.

Outras vezes tentei retornar para que o VERBO se fizesse presente e, a partir dele, as flores voltassem a florescer, porém sem sucesso, algo me impedia.

A força cotidiana, a necessidade material, cada vez mais me regava a carne. Então endureci. Era só Carne sem Verbo.

Ainda caminho pela mesma rua nublada nesse dia 21.05, mas ela é diferente. Ela tem cor. É possível achar cor no nublado. Tem várias tonalidades de cinza, o branco se mistura com um azul desbotado, o verde das árvores exalam um cheiro de libertação.

Chego em casa e começo a escrever. É nesse momento que o Verbo se liberta da Carne. As palavras vão brotando como as flores dando início a primavera.

Recordo-me do marco inicial que deu origem a essa revolução. Março de 2007. O corpo sendo arrastado para uma sala de aula. Uma disciplina, uma tal de Leitura e Expressão Oral. Entra porta a dentro uma mulher. Uma tal professora Cláudia. A Carne pensa: "lá vem mais uma". Palavras que serão ditas certamente irão entrar em minha cabeça mas não tomarão assento na fila da frente, talvez com muito esforço ficarão guardadas dentro das caixas, aquelas mesmas que estão guardadas no fundo do armário.

Porto Alegre nublado, 21.05.2008.

Agora aqui sentado junto ao meu silêncio, lembrei-me daquelas caixas. Abri o armário e percebi que as caixas estavam abertas, porém dentro já não havia idéias, aspirações, esperanças, mas sim os velhos talões de cheques, os extratos bancários. As idéias sentaram na primeira fila de minha cabeça, as aspirações abriram meus olhos para um mundo diferente e as esperanças tornaram-se concretas.

O mundo está necessitando de ídolos e eu o encontrei em Março de 2007, numa tal de disciplina de Leitura e Expressão Oral.

Nesse dia em fazes anos, o meu presente pata ti é meu Verbo, esse mesmo que tu já havia me dado de presente em Março de 2007.

Dedicado a Professora Cláudia Rahal no dia de seu aniversário.

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