quinta-feira, 23 de julho de 2009



Cantigas de Amor





As Cantigas de Amor têm origem nas cantigas provençais desenvolvidas no sul da França passando por uma transformação em Portugal, tornando-as mais sinceras e mais autênticas para expressar os sentimentos de seus criadores.

Os elogios destinados a uma dama são sempre representados por um eu lírico masculino tendo seu trovador caracterizado como um coitado, sofredor.

Os temas utilizados pelos trovadores referiam-se a amores impossíveis, idealizados, fantasiados, sem serem correspondidos pelas donzelas. A mulher amada era exaltada em uma posição de superioridade e, em sua grande maioria, sem revelar seu nome a fim de não compromete-la.

A linguagem utilizada era melhor e mais estruturada que nas Cantigas de Amigo. Utilizava por vezes a estrutura das Cantigas de Maestria e em outras das Cantigas de Refrão.





Algumas características:

  • Eu lírico masculino.

  • Ausência de paralelismo, presente nas Cantigas Paralelísticas.

  • Tratava principalmente a aristrocacia das cortes.

  • Amor impossível, sofrimento amoroso.

  • Mulher idealizada.

Na próxima postagem, Cantigas de Amigo, Escárnio, Maldizer e Novelas de Cavalaria.

Paulo Christofoli



quinta-feira, 9 de julho de 2009

TROVADORISMO



O século XII representa o marco inicial, em Portugal, de uma linguagem literária em galego-português. As cantigas eram a forma utilizada pelos poetas para expressar a arte que se desenvolvia. Esses poetas eram chamados de Trovadores. O Trovadorismo é considerado a primeira manifestação literária da Língua Portuguesa.

Contexto Histórico

A Idade Média caracteriza-se por um sistema econômico social e político denominado Feudalismo. Esse sistema teve início no século V, apogeu no século X e desapareceu no século XV.
O Clero e a Nobreza eram as classes dominantes nesse período. A cultura Teocêntrica dominava o momento histórico tendo Deus como o centro de todas as coisas.
Apesar de toda economia girar em torno dos senhores feudais, os burgos já começavam a se organizar dando vestígios que uma nova classe social emergia nos arredores dos castelos, a Burguesia.
O momento cultural girava dentro dos castelos, onde os Trovadores cantavam seus poemas para a nobreza, contando feitos de cavaleiros, amores por donzelas puras, satirizando a sociedade.




As cruzadas são uma ordem militar organizada pela Igreja católica para combaterem os inimigos do cristianismo e libertarem a cidade de Jerusalém (Terra Santa) do domínio muçulmano. O movimento teve início ao final do século XI estendendo-se até aproximadamente à metade do século XII. A criação das cruzadas medievais está intimamente associada a uma tentativa de recuperação do sistema feudal já em crise durante a Baixa Idade Média.


Crise no Feudalismo


A decadência do Feudalismo no período chamado Baixa Idade Média decorre em consequência do aumento demográfico ocorrido entre os séculos X e XI. O aumento populacional não encontrava sintonia com o aumento da produtividade, fazendo com que muitos acabassem marginalizados e expulsos dos feudos. A partir desse fato a imigração para centros urbanos faz com que uma nova classe social começasse a surgir, composta por artesãos, ourives, pintores, construtores, etc. O mercantilismo já depositava sua semente no novo panorama econômico da época, prenunciando o surgimento de uma nova classe social, a burguesia.

Origem do Trovadorismo

Existem quatro teses sobre a origem do Trovadorismo. A primeira, Tese Arábica, acredita que o movimento tem como raiz a cultura Árabe; a segunda, Tese Folclórica, pregava a arte criada pelo povo; a Tese Médio-Latinista via sua origem na literatura latina; por fim, a Tese Litúrgica na qual a inspiração se desenvolveu por intermédio da poesia litúrgica-cristã.
As cantigas primeiramente destinados ao canto, foram manuscritas em cadernos de apontamentos e, mais tarde, dispostas em coletâneas chamadas de Cancioneiro. Cancioneiro eram livros que reuniam grande número de trovas. Durante o período três coletâneas destacaram-se:
  • Cancionerio de Ajuda: poesias escritas em galego-português datadas do final do século XIII, sendo influenciadas pela lírica occtana. Derivada de Aquitânia, uma antiga região administrativa do Império Romano, a língua occtana era uma língua romântica falada ao sul da França.

  • Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa: coletânea de lirismo trovadoresco galaico-português, incluindo Cantigas de Amigo, Cantigas de Amor, Cantigas de Escárnio e Maldizer. Entre alguns trovadores presentes na obra encontra-se Dom Dinis, rei de Portugal em 1279.

  • Cacioneiro da Vaticana: copilado no final do século XV, durante o reinado de D. João III, encontra-se na Biblioteca do Vaticano. É composto de 1205 cantigas, sendo que 138 são computadas de autoria de D. Dinis.
Artistas Medievais

Os artistas medievais seguiam a seguinte classificação:
  • Trovador: nobre, cultura erudita, criava pelo gosto do que fazia sem receber por suas composições.
  • Jogral: compositor saltimbanco ou ator sendo pago por suas apresentações.
  • Segrel: fidaldo em decadência que apresentava-se nas cortes em troca de dinheiro.
  • Menestrel: artista que servia a uma determinada corte.
  • Jogralesca ou Soldadeira: moça que acompanhava os artistas dançando, cantando e tocando castanholas.
Características do Trovadorismo

O projeto literário do Trovadorismo consistia em uma literatura oral com o objetivo de entretenimento para a nobreza, redefinindo o papel dos cavaleiros nas cortes. As estruturas literárias seguiam às relações de vassalagem, ou seja, os atores (vassalos) ofereciam a nobreza (suserano) fidelidade e trabalho em troca de proteção e um lugar no sistema de produção.
Além disso, a sociedade vivia em total subserviência a Deus (teocentrismo característico da época), representada literalmente pela submissão do trovador à dama (na poesia) ou do cavaleiro à donzela (nas novelas de cavalaria).
"A Cantiga da Ribeirinha" é apontada como o primeiro texto literário português escrito em aproximadamente 1189 ou 1198, considerada uma Cantiga de Amor, tendo sua autoria designada a Paio Soares de Taveirós.

Poesia e Prosa Trovadoresca

Poesia:
  • Lírica (Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo)
  • Satírica (Maldizer e Escárnio)

Prosa:

  • Novelas de Cavalaria

Dando continuidade ao Trovadorismo, em breve irei abordar os seguintes temas:

Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo

Cantigas de Maldizer e Escárnio

Novelas de Cavalaria

Paulo Christofoli






quarta-feira, 8 de julho de 2009

Passeio da turma de formandos do curso de Letras do IPA - último semestre de 2008

Parte 1

Pessoal, esse é o vídeo do nosso passeio - Quinta da Estância Grande - que estou disponibilizando no meu blog para que vocês possam ver. Tive que cortar em 6 partes pois estava muito grande. Espero que esse vídeo traga boas recordações.

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Parte 5

Parte 6 (última)




Pequeno ensaio sobre a livro: O Continente I, da obra O Tempo e o Vento de Érico Verissimo.
O olhar das mulheres e o sentimento dos homens perante as guerras no livro O Continente I
Érico Verissimo para dar corpo em sua obra o Tempo e o Vento utiliza-se de fatos históricos da formação do estado do Rio Grande do Sul. Por ser um território fronteiriço, a saga do povo gaúcho é marcada por várias guerras, sejam elas na defesa de suas propriedades, sejam elas de caráter econômico-políticos.
A segmentação em dois pólos acompanha, desde o início, a formação cultural desse povo. Portugueses/Espanhóis, Pica-pau/Maragato, mais recentemente, Grêmio/Inter, Os Terra/Os Cambarás, e, seguindo essa linha o autor vai tecendo sua trama dramática envolvendo o leitor e o próprio escritor.
O homem gaúcho, com seu estereótipo de macho, guerreiro, é incorporado pela personagem do capitão Rodrigo, talvez um "rebelde sem causa". Para ele, estar em combate significava estar na sua plenitude, em comunhão com a vida. Não percebemos durante a obra que Rodrigo lutasse por ideais políticos, para ele a guerra era sinônimo de sua virilidade, liberdade para trotear pelos campos, sem compromissos ou responsabilidades com a vida cotidiana, como demonstra o framaneto abaixo numa conversa entre Rodrigo e Juvenal:
"Mas a independência veio e o Rio Grande aceitou logo a situação. Foi pena. Eu tinha muito portugues marcado..." (O Continente I, pg. 217)
Na contramão de Rodrigo, a personagem que o antecede no romance, Ana Terra, demonstra todo seu desprezo pela guerra e suas consequências no núcleo familiar.
Fazendo uma análise dessa personagem, pode-se observar que alguns traços de sua personalidade não fogem da idealização do povo gaúcho, ou seja, valente, guerreira.
Sua visão sobre a guerra é sempre de algo que consome a vida, destrói a família e aproxima a morte de seu cotidiano, sem demonstrar objetivo, finalidade ou trazer soluções práticas e efetivas para o bem estar do povo.
A família é o núnleo central de uma sociedade e, para a persongem Ana Terra, é o núcleo central da vida. Seus sacrifícios sempre estão na preservação desse centro de interesse.
Seu filho, Pedro, é algo que aproxima a vida de uma esperança no futuro. Os seguimentos abaixo, demonstram o sentimento de Ana Terra com relação à guerra, quando seu filho Pedro foi convocado:
"...Ana Terra sacudiu a cabeça lentamente, mas sem compreender. Para que tanto campo? Para que tanta guerra? Os homens se matavam e os campos ficavam desertos. Os meninos cresciam, faziam-se homens e iam para outras guerras. Os estanceiros aumentavam as suas estâncias. As mulheres continuavam esperando. Os soldados morriam ou ficavam aleijados. Voltou a cabeça na direção dos Sete Povos, e seu olhar perdeu-se, vago, sobre as coxilhas". (O Continente I, pg. 181)
Ainda sobre a convocação de Pedro para aguerra, abaixo fragmento demonstrando o sentimento de Ana Terra, em uma conversa com o Coronel Amaral:
"Ana Terra sentiu uma revolta crescer-lhe no peito. Teve ganos de dizer que não tinha criado o filho para morrer na guerra nem para ficar aleijado brigando com os castelhanos. Guerra era bom para homens como o Coronel Amaral e outros figurões que ganhavam como recompensa de seus serviços medalhas e terra, ao passo que os pobres soldados às vezes nem soldo recebiam"> (O Continente I, pg. 179)
Ana Terra demonstra através de seus pensamentos e atitudes toda sua repulsa em relação as guerras intermináveis que não traziam benefícios, somente dor e perda para a população do vilarejo.
Retornando ao ponto principal desse ensaio, na qual mencionei a questão centrada entre dois pólos, Regina Zilberman, no Livro "O Tempo e o Vento - história, invenção e metamorfose", retoma essa idéia de dicotomia, corporificada entre os elementos do Punhal e da Tesoura.
Novamente podemos perceber, através da representatividade desses instrumentos, o sentimento de homens e mulheres perante as guerras, a morte, a vida.
O Punhal, carregado pela personagem Pedro Missioneiro, representa um símbolo capaz de tirar uma vida, causar a morte.
A Tesoura, que acompanha a personagem Ana Terra, representa o oposto, ou seja, um símbolo capaz de trazer ao mundo uma nova vida.
Ainda sobre a polaridade, o próprio autor, ao batizar sua obra sob o título de "O Tempo e o Vento", também traz a idéia de o Tempo é o que passa, o Vento é o que fica.
O romance traz a palco uma série de conflitos internos e externos travados na região sul, quando os Sete Povos das Missões estão sendo ameaçados pela execução do Tratado de Madri. Na sequência ocorre a revolução Federalista, na qual o Rio grande separa-se em dois blocos: os seguidores de Júlio de Castilhos, líder republicano e os seguidores de Gaspar Silveira Martins, líder Federalista. Ao mesmo tempo traça a história da formação da família Terra-Cambará.
A perspectiva na qual a guerra é observada e sentida, não é somente sob o ponto de vista de quem nelas lutam, mas sim de todos os que sofrem com ela.
As mulheres que ficam em suas terras como guardiãs do núcleo familiar, deixam claro seu ponto de vista a respeito do assunto, conforme ilustramos na fala da personagem Maria Valéria, na primeira parte do livro (O Sobrado I):
"Ter filhos é que é negócio de mulher, eu sei - continua Maria Valéria. Criar filhos é negócio de mulher. Cuidar da casa é negócio de mulher. Pois fique sabendo que esta revolução também é negócio de mulher. Nós também estamos defendendo o Sobrado. Alguma de nós já se queixou? Alguma já lhe disse que passa o dia com dor no estômago, como quem comeu pedra e pedra salgada? Alguma já lhe pediu pra entregar o Sobrado? Não. Não pediu. Elas também estão na guerra" (O Continente I, pg. 32)
Finalizando, diante de tantas guerras que são descritas no livro O Continente I, podemos nos questionar sobre o teor belicista da obra. As constantes batalhas que ocorrem durante os capítulos são o suficiente para que tenhamos uma visão bélica sobre a mesma?
A resposta a essa pergunta é não. Entendo que as guerras servem de "pano de fundo" para o desenrolar e dar verosimilhança ao romance. As tramas, os desgostos, as decepções, tristezas, alegrias, amores e desamores, baseiam-se na atitude dos personagens diante as situações do cotidiano. A obra pode trazer, muito mais que uma visão bélica, uma visão da sociedade, da construção de uma identidade.
Desenvolvido por Paulo Christofoli para apreciação da professora Luciana Coronel, titular da disciplina de Literatura Sul-Riograndense do IPA.

Pessoal, estou dando aula de Literatura como professor voluntário (sem dim dim)em um curso pré-vestibular para alunos de baixa renda na Associação Satélite Prontidão.
Como não havia nada pronto tive que desenvolver um material para que os alunos tivessem como acompanhar as aulas.
Em um primeiro momento apenas fiz uma organização de textos de outras obras, porém na sequência iniciei o desenvolvimento de material escrito e elaborado por mim mesmo através de estudos em obras literárias e consultas na internet.
Acima é um exemplo de como está ficando esse material. Apesar de não estar bem nítida a imagem dá para ter uma idéia.
Em tempo, o exemplo acima trata sobre o Trovadorismo.
Paulo Christofoli


As Mulheres de minha vida

Uma elegia ao amor maior
Infinitamente te amo.
Por que razão amar-te menos que infinitamente?!
Em que mundos cruzaram nossas almas e em que universo nossos lábios se tocaram?
Eu, carne, osso, razão, embebido pela loucura - que é como teus olhos nas noites estreladas - acha em ti o acalanto de uma vida...
Eu, que não creio em quase nada, creio em tua presença, creio na tua existência, pois teus gestos são os meus, tuas palavras são as minhas, as mesmas palavras que foram ditas nos cantos dos dias. Tua face é a outra parte da minha.
De onde veio essa nossa afinidade de pensamentos?!
És o sonho que se materializou na minha frente, e eu, como um menino perdido, por instantes, senti-me estático diante a realidade do destino.
Viestes a mim para para ser luz.
Oh, minha pequena, esse medo de não teres a mim com a ti tenho, essa vontade de gritar à essa vida o que nos foi destinado: que somos os herdeiros da eternidade...
És uma deusa de beleza, teu canto lírico mistura-se com a natureza, penetrando suavemente através das paredes, das pedras, dos corações embrutecidos pela dura rotina do dia-a-dia.
Teu olhar, como poder explicar teu olhar, se através dele posso ver o infinito...
Como explicar o infinito...?
És inexplicável minha formosa menina, és uma inesgotável fonte onde busco aspirações para seguir na rotina cotidiana, para o atropelo das pessoas por sobre os corpos abatidos ao final de mais um dia.
Quando à noite cai, trazendo seu véu e deixando com que as estrelas mostrem seus coloridos, sinto tua calma pairando sobre meu espírito e danço, num sonho imaginário, todas as valsas viajando além do inevitável, do incerto...
Amo-te infinitivamente, infinito verbo ou palavra mágica, nome próprio ou qualquer outro adjetivo, ou qualquer outra coisa, pois elas serão o que tiverem que ser e nós seremos mais dois na estrada da eternidade.
Dedicado a minha esposa Cinara e minha filha Bárbara.
Paulo Christofoli

terça-feira, 7 de julho de 2009

Porto Alegre nublado, 21.05.2008.

Caminho pelas ruas e o céu está nublado deste dia 21 de maio. Organizo minhas idéias, repasso minhas lembranças, dou uma olhada rápida para o passado e me distraio um pouco com isso. Rapidamente volto a olhar para frente.

As batalhas que enfrentei já não são tão mais importantes, ficaram guardadas numa caixa no fundo do armário. As vezes abro a porta do armário e fico admirando aquelas caixas, uma em cima da outra. Não abro, somente as observo. O cheiro de guardado já é o suficiente para trazer imagens, não todas, apenas aquelas que de alguma maneira fazem sentido nesse momento.

Um dia, tempos atrás, vislumbrei que as Letras poderiam dar-me voz para saciar minha sede de falar ao mundo minhas angústias, minhas necessidades. Mas o tempo foi passando e minha voz foi ficando cada vez menor até que um dia calei-me. Já não sabia mais falar, já não tinha mais o que dizer. A rapidez do movimento do mundo tinha me engolido. Eu funcionava como uma máquina automatizada, sem vontade própria. Alguém acionava um comando e eu agia. E cada vez mais o mundo ia ficando nublado, assim como o dia de hoje, o dia 21.05.

Outras vezes tentei retornar para que o VERBO se fizesse presente e, a partir dele, as flores voltassem a florescer, porém sem sucesso, algo me impedia.

A força cotidiana, a necessidade material, cada vez mais me regava a carne. Então endureci. Era só Carne sem Verbo.

Ainda caminho pela mesma rua nublada nesse dia 21.05, mas ela é diferente. Ela tem cor. É possível achar cor no nublado. Tem várias tonalidades de cinza, o branco se mistura com um azul desbotado, o verde das árvores exalam um cheiro de libertação.

Chego em casa e começo a escrever. É nesse momento que o Verbo se liberta da Carne. As palavras vão brotando como as flores dando início a primavera.

Recordo-me do marco inicial que deu origem a essa revolução. Março de 2007. O corpo sendo arrastado para uma sala de aula. Uma disciplina, uma tal de Leitura e Expressão Oral. Entra porta a dentro uma mulher. Uma tal professora Cláudia. A Carne pensa: "lá vem mais uma". Palavras que serão ditas certamente irão entrar em minha cabeça mas não tomarão assento na fila da frente, talvez com muito esforço ficarão guardadas dentro das caixas, aquelas mesmas que estão guardadas no fundo do armário.

Porto Alegre nublado, 21.05.2008.

Agora aqui sentado junto ao meu silêncio, lembrei-me daquelas caixas. Abri o armário e percebi que as caixas estavam abertas, porém dentro já não havia idéias, aspirações, esperanças, mas sim os velhos talões de cheques, os extratos bancários. As idéias sentaram na primeira fila de minha cabeça, as aspirações abriram meus olhos para um mundo diferente e as esperanças tornaram-se concretas.

O mundo está necessitando de ídolos e eu o encontrei em Março de 2007, numa tal de disciplina de Leitura e Expressão Oral.

Nesse dia em fazes anos, o meu presente pata ti é meu Verbo, esse mesmo que tu já havia me dado de presente em Março de 2007.

Dedicado a Professora Cláudia Rahal no dia de seu aniversário.

Clau e sua poesia

É sexta-feira, dia de festa. Os rostos se iluminam nas sextas-feiras. Não tenho um programa definido. A única certeza é de enfrentar mais uma apresentação em grupo durante a aula noturna na faculdade.
Todos a postos, círculo formado e vamos lá, a tortura vai começar.
Tudo vai ocorrendo como planejado. O blá blá blá de sempre. Uns falam com o colega ao lado, outros ficam com aquela visão de raio x, sabem como é visão de raio x, a pessoa está olhando diretamente para você e você tem a sensação de estar abafando... triste ilusão, o olhar atravessa e se perde em sei lá o que, menos em você é claro.
De repente as luzes se apagam na sala de aula. Primeira impressão é que a companhia de energia elétrica atendeu as preces de todos os descomungados que estão ali presentes, ou quem sabe foi uma força divina que ouviu seus súditos e resolveu dar uma mãozinha e acabar com o sofrimento.
Porém ocorre um fato inusitado. A chama de uma vela se acende e por micro segundos o silêncio pairou no ar. Uma voz por de traz daquela chama inicia pausadamente recitar algumas palavras estranhamente ritmadas. O silêncio agora tem som. Um som doce que vai penetrando pelo nosso corpo e deixando uma sensação d pureza. Os nossos corpos mesmo que parados, dançam ao ritmo da melodia das palavras. Uma pequena e inocente poesia.
Aquela única chama de uma vela de repente multiplica-se em várias luzes em nossas mentes. É como um acalanto que vai nos envolvendo até fecharmos completamente os olhos e transformar a realidade em um sonho.
Clau e sua poesia.
A festa daquela sexta-feira estava diante de nós, mesmo como expectadores, porém triunfantes na certeza que ainda havia salvação para aquelas aulas.
A voz calou-se. As luzes voltaram a serem acesas. Os olhos de todos se cruzaram. Voltaria a realidade cruel que nos afoga a voz todos os dias?
Porém isso não ocorreu, pois um pequeno laço de fita retirado dos cabelos de uma menina-mulher marrou nossos corações com uma sensação de plenitude.
Clau e sua poesia.
Dedicado ao colega e amigo Claudenilson

Esse vídeo é o resultado de um trabalho realizado para atender uma tarefa demandada pela cadeira de Leitura e Expressão Oral do 1º semestre do curso de Letras do IPA.

Esse vídeo foi disponibilizado por mim no youtube e tem gerado várias manifestações de aprovação por usuários da internet.

Uma análise do conto Soldadinho de Chumbo
(Hans Christian Andersen)

A situação inicial do conto nos remete para uma situação de dificuldade e restrição do herói pelo fato de ter apenas uma perna, porém existe o sentimento de superação dessa diferença, descrita na passagem:
"Mas ele ficava tão bem de pé, numa perna só, como os outros das duas"
Os conflitos estão presentes durante basicamente todo o conto. As diferenças sociais, situação essa impregnada na Dinamarca do século XIX, em que as constantes guerras enfraqueciam as finanças e aumentavam os contrastes entre a plebe e a nobreza, também estão presentes, situação essa evidenciada no trecho:
"Esta seria uma mulher ideal para mim. Mas é muito aristocrática, mora num palácio, e eu tenho apenas uma caixa de papelão, onde somos vinte e cinco"
O elemento do sobrenatural é carregado pela presença do Duende e como se fosse a voz dessa sociedade de classes diz para o Soldadinho que a bailarina está acima dele.
"Soldadinho de Chumbo! - disse o duende. - Tira os olhos de lá!"
Ocorre uma ruptura quando o herói sai da proteção e mergulha no completo desconhecido. Nesse momento as aventuras vividas pelo Soldadinho fazem aflorar seu sentimento de amor e perseverança diante as diversas dificuldades enfrentadas no transcorrer do conto.
O confronto e a superação desses obstáculos e perigos, busca soluções no plano da fantasia com a introdução de elementos imaginários.
O enredo segue linear e o processo de solução dá-se pela passagem que leva o soldadinho a ser encontrado dentro do peixe e, por uma dessas reviravoltas do destino, o soldadinho vê-se novamente diante da bailarina.
O desfecho remete-nos a um final apoteótipo na qual o soldadinho e a bailarina se fundem em um só coração dando assim a sensação da transformação em algo novo.
Simbologia do Chumbo
Símbolo do peso da individualidade incorruptível. Para a transmutação do chumbo em ouro, os alquimistas buscavam simbolicamente desprender-se das limitações individuais, para atingir os valores coletivos e universais.
O chumbo simbolizaria a matéria, enquanto está impregnada de força espiritual e a possibilidade das transmutações das propriedades de um corpo nas de um outro, assim como das propriedades gerais da matéria em qualidade do espírito. O chumbo simboliza a base mais modesta de onde pode partir uma evolução ascendente.
Essas características citadas acima estão muito presentes no conto O Soldadinho de Chumbo, principalmente em seu final quando há uma transformação do Soldadinho e da bailarina em um coração.
Análise do conto
O conto O Soldadinho de Chumbo foi o primeiro escrito totalmente por Andersen.
O conto trata de um grande amor entre o Soldadinho de Chumbo e a Bailarina e durante sua narrativa aponta situações precárias da vida.
O conto não traz a tona apenas o sentimento de amor, pois trata de ética, diferenças culturais, identidade e aceitação das diferenças.
Andersen utiliza-se da animação de objetos, como brinquedos, para representar a impotência das crianças, incompreendidas e cheias de desejo que ninguém escuta.
O autor tinha uma visão do amor, beata, platônica e muitas vezes letal, levando-nos a conjecturar que ele encontrou beleza nas palavras, mas nem por isso teve recompensas no campo do amor.
Na passagem do conto em que o soldadinho é engolido por um peixe e depois ser retirado da sua barriga, podemos fazer uma analogia com a gestação, um renascer para uma nova oportunidade uma vez que, por obra do destino, foi parar exatamente no mesmo lugar de onde havia saído.
A morte do soldadinho e da bailarina não deve ser encarada como uma tragédia mas sim como uma transformação, pois é nesse momento do conto, e somente nesse momento, que os dois conseguem ficar unidos. Da união dos dois surge um coração significando o amor pela eternidade. Essa transformação que ocorre pode estar relacionada também com a simbologia do chumbo na qual é considerado a base mais modesta de onde pode partir uma evolução ascendente.
Uma análise de Diana e Mário Corso em "A infância invade o conto de fadas"
"Por isso, não surpreende que o Soldadinho de Chumbo seja uma história de amor infeliz. Trata-se de um soldadinho diferente, pois lhe falta uma perna. Em função disso, apaixona-se por uma bailarina de papel, cuja perna erguida faz parecer que ela também tem apenas uma. Fascinado pela amada, coloca-se num lugar desde onde possa contemplá-la e deixa de ser guardado com seus irmãos. Em função disso, o soldadinho sofre inúmeros revezes, cai da janela, é colocado a navegar pelos esgotos num barquinho de papel e termina na barriga de um peixe que, para seu grande espanto, é comprado pela cozinheira da casa onde morava. Mas nem essa virada da sorte propicia o amor impossível dos dois: somente na morte, queimados juntos, derrubados na lareira, eles finalmente se fundirão.
Como o soldadinho e a bailarina, as crianças estão à mercê de serem levadas para onde forças superiores quiserem. Devemos lembrar que é bem recente a ideia de consultar uma criança a respeito de se ela quer ou não ir a determinado lugar ou se está sentindo-se bem onde está. Nos tempos da infância de Andersen, crianças morariam como, quando e com quem fosse disposto que deveria ser, e pouco importava o que achassem disso. Além disso, seus sentimentos não passavam de secretas fantasias e ilusões, que o mundo ignorava solenemente."